Determinado por sua busca implacável pela única resposta que ansiava, James mergulhou ainda mais profundamente nos recessos do conhecimento proibido. Suas semanas se tornaram uma jornada solitária e sombria, onde os segredos que desvendava eram como fragmentos de uma verdade mais ampla e perturbadora. Já não compartilhava suas reflexões nem descobertas com seus irmãos do mosteiro, pois acreditava que a parcial verdade era capaz de contaminar a integridade da verdade completa.

       Seu isolamento se refletia em sua aparência e comportamento. Ele se tornara mais distante, sua expressão carregava o peso das inúmeras horas de estudo e contemplação. À medida que a luz do sol dava lugar à escuridão da noite, ele se envolvia cada vez mais nas páginas amareladas dos tomos proibidos. A solidão se tornou sua companheira constante, e a escuridão de seus pensamentos parecia se refletir no próprio mundo ao seu redor.

         Foi em meio a essa escuridão que ele encontrou um livro que parecia ser um eco das passagens de Ezequiel na Bíblia. Cada palavra parecia carregar a dúvida e a incerteza que Ezequiel havia enfrentado. As páginas pareciam sussurrar questionamentos sobre a dualidade da existência, sobre a luz e a escuridão que coexistem em um equilíbrio frágil. James se viu imerso nesse diálogo entre as forças opostas, um diálogo que espelhava suas próprias inquietações interiores.

         Com cada capítulo que lia, a história parecia se tornar mais real, mais autêntica. As palavras ganhavam vida, e ele sentia que estava tocando as verdades mais profundas do universo. No entanto, a medida que a história se desdobrava, um sentimento de inquietação crescia dentro dele. A verdade que ele estava buscando não era apenas uma fonte de clareza e iluminação; ela trazia consigo uma escuridão perturbadora, uma sombra que ameaçava engolir tudo o que ele conhecia.

         Em uma dessas noites sombrias de estudo, quando o relógio passou despercebido e as horas fundiram-se em um continuum de pensamento e reflexão, algo estranho começou a acontecer. O vento começou a soprar com uma intensidade que ele nunca havia experimentado antes. As cortinas do mosteiro dançavam no ar, criando um ambiente de mistério e inquietação. O coração de James começou a palpitar, sua respiração ficou ofegante à medida que ele mergulhava mais fundo na leitura.

         Enquanto seus olhos percorriam as palavras impressas no papel, ele encontrou uma passagem que o fez congelar.

Citação do Livro 

– “Veio a mim esta palavra do Senhor: Filho do homem, diga ao governante de Tiro, Assim diz o Soberano Senhor: No orgulho do seu coração você diz, ‘Sou um deus; sento-me no trono de um deus no coração dos mares. Mas você é um homem, e não um deus, embora se ache tão sábio quanto um deus’.” Essas palavras carregavam um nome, um nome que ecoou em sua mente com um estranho eco: “Lux e Ferre”.-

       Antes que ele pudesse processar totalmente a gravidade dessas palavras, um relâmpago rasgou o céu, seguido por um trovão ensurdecedor. A luz foi instantaneamente apagada, mergulhando o ambiente em uma escuridão absoluta. James se viu envolto em trevas, sua respiração acelerada e seu coração batendo descompassadamente. A tempestade rugia do lado de fora, enquanto dentro dele algo mais profundo e inquietante estava acontecendo.