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        Dentro desse manuscrito, James delineou uma teoria que conectava os mitos de dilúvio de diferentes culturas e épocas. Ele observou como as histórias de inundação na Mesopotâmia, por exemplo, apareciam em épicos como o de Ziusudra, Gilgamexe e Atrahasis. A Lista Real Sumeriana, por sua vez, dividia a história em períodos pré-diluvianos e pós-diluvianos, com os primeiros reis vivendo por longos períodos de tempo e os últimos tendo suas vidas drasticamente reduzidas após o dilúvio.

          Nos séculos seguintes, os mitos do dilúvio ecoaram em diversas culturas. O assiriologista George Smith, no século XIX, traduziu o relato babilônico do Grande Dilúvio. O Épico de Gilgamexe, datado de 700 a.C., continha uma versão do mito que descrevia o herói Gilgamexe encontrando o homem imortal Utnapistim, que havia construído uma embarcação sob instruções divinas para escapar da inundação.

         A mitologia hindu também continha referências a um grande dilúvio. No Satapatha Brahmana, o avatar do deus Vixnu, conhecido como Matsya, alertava o primeiro homem, Manu, sobre a iminência do dilúvio e o instruía a construir uma enorme embarcação.

       Até mesmo a narrativa bíblica do dilúvio estava inserida nesse padrão. Deus, desgostoso com o estado pecaminoso da humanidade, decide inundar a Terra. Ele instrui Noé a construir uma arca para salvar a si mesmo, sua família e representantes de todas as espécies. Após o dilúvio, Deus faz uma promessa de não julgar a Terra com tal calamidade novamente, simbolizada pelo arco-íris.

        Platão, em sua obra “Timeu”, também aborda a história do dilúvio. Nesse relato, Zeus decide punir a humanidade devido às constantes guerras por recursos. O titã Prometeu revela o plano a Deucalião, instruindo-o a construir uma arca para sobreviver. A arca desembarca após nove dias e noites de dilúvio, trazendo uma nova chance para a humanidade.

    James estava percebendo que, apesar das variações nas narrativas, havia um fio comum de verdade que percorria essas histórias. Ele via a integração entre civilizações, um mosaico de conhecimento que parecia apontar para um passado compartilhado e eventos transcendentais. Ele estava construindo uma teoria que unia essas histórias, traçando um mapa da sabedoria ancestral que transcendera as barreiras do tempo e do espaço.

      Nessa busca incessante pela verdade, James estava se tornando um arqueólogo do conhecimento humano, desenterrando os fragmentos que formavam a essência das histórias de nossa existência. No entanto, ele não estava cego para as complexidades e ambiguidades que essa jornada trazia consigo. A cada nova descoberta, ele se via confrontado com a dualidade da verdade, com sua capacidade de trazer esclarecimento e, ao mesmo tempo, obscuridade.

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