Capítulo 5
Um Espião Russo no Vaticano
A sua expulsão do monastério o fez refletir e questionar a verdade de toda a sua vida, levando-o a entender que a busca por 100% de certeza em tudo era irreal e impossível em qualquer aspecto da existência. A clareza que essa compreensão trouxe também veio acompanhada de sofrimento, mas James sabia que do sofrimento poderia surgir a evolução.
Esse sofrimento fez com que ele acreditasse que a verdade não estava restrita aos muros do monastério. A sua percepção se expandiu para enxergar que a sociedade, de alguma forma, também estava aprisionada dentro das regras e dogmas que criara. E se nada é 100% real, ele decidiu buscar a outra face da verdade, decidindo solicitar formalmente a sua desvinculação total da igreja no Tribunal Diocesano, que foi concedida após o consentimento da organização da Igreja.
Sua reintegração à sociedade não foi fácil, sua habilidade social era limitada e a reclusão durou meses até que um convite inesperado alterasse o curso de sua vida.
James, um senhor maduro com seus 60 anos, observava incrédulo as inovações tecnológicas dos anos 2000. Ele percebia que essas mudanças revolucionariam a compreensão das gerações vindouras. Contudo, seu método de aprendizagem e imersão total nos livros o mantinham ligado a uma comunicação ancestral, distante de e-mails, telefones e televisões. Sua vida girava em torno da leitura e da comunicação verbal.
Num dia frio de inverno, enquanto apreciava a paisagem gelada dos campos e tomava seu café da manhã, percebeu um carro se aproximando à distância. Logo depois, bateram em sua porta, e uma voz chamou pelo seu nome. Era o Delegado Peter, da polícia francesa, que se apresentou formalmente e o convidou:
– “Bom dia, sou o Delegado Peter da polícia francesa. Estou aqui para oficializar um convite para o Senhor James Petit. O senhor seria James.”
Com seu habitual semblante sereno, James respondeu:
-“Bom dia, sim, sou eu.”
O delegado, então, explicou que ele foi convidado a participar como convidado especialista em um caso policial de grande relevância. Um crime havia ocorrido no Vaticano, um soldado da Guarda Suíça fora acusado de furtar documentos secretos. Pela fama de James como um ótimo professor, conhecedor de histórias antigas, de línguas mortas e teologia além de ser alguém frio, sábio e inabalável em busca da verdade, o soldado capturado solicitou a ele como seu defensor. explicou brevemente o ocorrido, o que fez com que James percebesse uma oportunidade para interagir socialmente e fazer o que mais sabia: estudar e buscar a verdade em sua forma mais plena. Com um aceno positivo da cabeça, James assinou o documento que oficializava o convite e comprometeu-se a comparecer na data e horário marcados no ofício. Assim, um novo capítulo se abria em sua vida, trazendo consigo desafios, mistérios e a chance de explorar uma nova faceta de sua capacidade de desvendar a verdade.
No início do inverno francês do ano de 2000, as manhãs marcavam 5°C e uma neblina espessa dificultava a condução, especialmente para um senhor de idade que não estava acostumado a essa rotina. Ainda assim, James seguiu firme em direção à Delegacia, cumprindo o seu compromisso. Ao chegar, ele se apresentou para os oficiais responsáveis, demonstrando sua pontualidade europeia característica. Logo, ele foi apresentado a toda a versão policial do caso.
Os detalhes da acusação estavam documentados, incluindo a presença de documentos secretos do Vaticano no apartamento do acusado, um suíço de 29 anos chamado Tim Egon. Além disso, havia gravações de câmeras de segurança que mostravam o suspeito em locais onde ele não tinha permissão de acesso.
A Guarda Suíça, fundada em 1506, atendeu a um pedido de proteção feito pelo Papa Júlio II em 1503, recrutando nobres suíços que eram renomados mercenários naquela época. Cento e cinquenta homens, considerados os mais corajosos e bem preparados, foram selecionados de todos os cantões da Suíça. Embora a Guarda fosse responsável pela segurança do Papa e dos edifícios papais, não atuava na proteção do Estado do Vaticano. Atualmente, ela ainda é composta por 100 homens.
A experiência de James o levou a questionar a veracidade plena da seleção de fatos e da versão apresentada. Ele refletiu sobre a possibilidade de diferentes perspectivas dando origem a uma verdade que poderia ser uma saída para a mentira. Sugerindo uma dose de ceticismo, James dirigiu-se ao chefe de polícia e disse:
-“Essa seleção de fatos, assim como a escolha dos soldados, pode não representar a verdade completa e ordenada dos eventos. Versões podem conter diferentes perspectivas que transformam uma mentira em algo verdadeiro. Portanto, a seleção dos soldados pode não ser tão rigorosa quanto pensamos. Eu gostaria de conversar diretamente com o Soldado Tim Egon para colher seu testemunho sobre os fatos.”