James decidiu adotar uma abordagem mais suave, visando a estabelecer um ambiente propício para a conversa. Ele quebrou o silêncio, dirigindo-se a Alexei com empatia:

        – Alexei, sabemos que os últimos dias foram difíceis para você. Estamos aqui para ajudar. Como você está se sentindo?

        Os olhos de Alexei encontraram os de James, revelando uma mescla de emoções complexas. Apesar do nervosismo evidente, parecia haver uma esperança em seu olhar. Ele respondeu, escolhendo cuidadosamente suas palavras:

       – Confuso, talvez seja a palavra certa. As coisas têm se desenrolado de maneiras que eu não consigo compreender completamente. Gostaria de ser bem tratado. Mas tenho me questionado o que é ser bem tratado.

James, de forma eloquente, respondeu, tentando tranquilizar Alexei:

       – O bem (do termo latino bene) é a qualidade de excelência ética atribuída a ações que estejam relacionadas a sentimentos de aprovação e dever. Em palavras mais simples, o bem é a ausência do mal, assim como o frio é a ausência do calor. Nem sempre o bem faz bem como pensamos e nem sempre o mal faz o mal como achamos. Apenas são 2 energias dualistas que brigam entre si, 2 elementos que não se misturam, ou você é um ou o outro.

Alexei, agora sim, percebeu a profundidade do ser naquele momento, e respondeu a James dizendo:

         – Uma bela e plena informação. Eu acho que é exatamente disso que se trata, informação. O grande evento de possibilidades que a informação traz é incomensurável, incontestável e irreal. Todos têm uma perspectiva, uma percepção, uma realidade diferente. 

         – Se caso eu responder sua primeira pergunta dizendo ‘Estou bem, fui muito bem tratado’, você receberá essa informação e criará uma realidade do ‘bem’. Mas percebe-se que essa informação é singular a sua percepção.

         – Essa linda mulher que ouviu a mesma afirmação pode, por si só, perceber um olhar diferente e criar uma percepção totalmente diferente, criando a realidade de que eu estou mentindo e fui muito maltratado, passei frio, privações de sono e torturas. E com isso criamos um paradoxo de informações baseadas no bem e no mal. 

          – Qual é a verdade?

“A verdade é única e baseada na memória da pessoa, sua percepção e da absorção da informação”.

          – Com isso, teremos duas respostas verdadeiras: estou bem e mal ao mesmo tempo.

          James percebeu que, apesar da profundidade das palavras de Alexei, havia uma urgência em esclarecer os documentos históricos que ele havia examinado. Ele decidiu focar na questão central:

        – Espero que seja a primeira resposta e que a segunda tenha sido um contexto profundo para ilustrar o quão sábio você é. Mas o que realmente nos trouxe aqui? A propósito, essa é Dra. Camille, advogada criminalista com especialização em leis internacionais, que irá nos ajudar em seu caso. Mas sobre o que nos trouxe aqui são os documentos. São muitos documentos e nós temos pouco tempo para lhe ajudar. Então a minha primeira pergunta é: qual é o seu interesse nesses manuscritos antigos? Sendo bem franco e direto, e assim que devemos nos tratar, por que o foco no ‘Dark Age’?

Alexei respondeu com sagacidade instantânea, como se esperasse exatamente essa pergunta:

        – Trata-se exatamente disso: informação e o poder que ela tem na vida das pessoas, criando toda essa realidade global, uma cultura intrínseca a cada nação, repassada oralmente, por escritas e hoje visualmente, criando uma grande percepção diferenciando propositalmente o ‘bem’ e o ‘mal’. Se com a primeira frase dita hoje por mim a você eu já consegui criar 3 realidades distintas, me diga o quão poderoso seria criar uma história ‘real’ de 300 anos, onde criaria uma percepção distorcida do futuro por todos?

James, cauteloso, explorou mais:

        – Você está sugerindo que os documentos antigos, especialmente aqueles relacionados ao ‘Dark Age’, foram forjados de alguma forma para manipular a percepção histórica?

Alexei olhou nos olhos de James com uma expressão séria e sincera:

         – Não apenas sugerindo, afirmando. A história é uma ferramenta poderosa nas mãos certas. Ao criar e moldar narrativas, é possível alterar a compreensão de gerações inteiras. E o ‘Dark Age’, esse período de 300 anos que parece não ter deixado vestígios arqueológicos reais, é uma oportunidade perfeita para moldar a história como quiser. É o apagamento de uma civilização e sua subsequente ‘ressurreição’ como se nada tivesse mudado.

Camille, que estava ouvindo atentamente, perguntou com curiosidade:

        – Mas por que? Qual seria o objetivo de manipular a história dessa maneira?

Alexei olhou para ela, seus olhos expressando uma intensidade profunda:

       – O poder. Aqueles que controlam a narrativa, controlam o pensamento das massas. Controlam as perspectivas, os ideais, as crenças. E assim, controlam o mundo.

          James e Camille trocaram olhares, compreendendo a enormidade das implicações das palavras de Alexei. A conversa estava apenas começando, mas uma coisa era certa: eles haviam entrado em um labirinto de mistérios e verdades ocultas que poderiam abalar as bases da história ditas até hoje e pronunciadas no futuro.

“A base da realidade é a percepção” 

Alexei seguiu energicamente seu discurso:

        – Os criadores” têm o controle de tudo, possuem todo o conhecimento da era, são detentores de todo o conteúdo histórico real, adoram a realeza divina primordial e criam as suas próprias para que sejam adorados e temidos a partir de fatos históricos que comandam e orientam subliminarmente o “gado” do rebanho mundial. 

         – O ciclo e órbita da vida é sempre o mesmo, com o tempo fixo entre o início e o armagedon. 

         – A história muda de tempos em tempos, de cultura para cultura, mas o final tem o dia marcado para acontecer. Se você soubesse exatamente o dia de sua morte, exatamente o dia em que teria o final, independente do quão cuidadoso é, isso mudaria a condução da sua vida hoje?

         – Seria menos cauteloso, comeria menos fibras, tomaria mais vinho? Caminharia menos, perdoaria mais? Você trabalharia hoje se soubesse que morreria amanhã?

James ouvia com atenção, refletia e tentava não mostrar surpresa, e disse:

          – São questões que nunca iremos responder até vivenciá-las, mas eu entendo a colocação e permito minha mente criar um mundo caótico sem um fluxo de vida nele. Com tudo, tenho que me manter focado para que meu racional tenha objetivo e o meu objetivo aqui seja esclarecer mais do que me questionar, mesmo tendo a intuição de que o questionamento será a resposta.

Alexei acenou com a cabeça e afirmou:

          – Eu sabia que não havia me enganado em chamá-lo. A questão a ser respondida agora, qual é para você?

James refletiu e disse:

          – A origem. Quem são os ‘criadores’?”

Alexei silenciosamente disse:

         – Nos meus arquivos, havia um livreto de couro velho de cor vermelha?

James respondeu, dizendo:

        – Eu não tenho o inventário. Eram 3 caixas e pouco tempo para verificarmos, não me foquei a cores e capas de livros.

          Um suspiro feminino foi sinal para interromper aquela conversa, e Camille abrindo sua bolsa, disse:

          – Desculpe interromper essa conversa masculina, mas como você disse Alexei, a percepção é a base da realidade. Sinto-me no dever de informar a vocês para criar uma realidade paralela à minha, onde meu instinto profissional e feminino me indicou que quando o vi, percebi o quão valoroso era apenas pela aparência.

Então, Camille puxa da bolsa o livreto de capa de couro e coloração vermelha, dizendo:

            – Esse livro é importante?

James e Alexei ficaram maravilhados e surpresos com aquilo. Os pensamentos os instigaram a pensar em sorte, instinto ou destino. Como ela poderia saber que o artefato mais valoroso seria aquele? James então disse:

           – Você é surpreendente, como isso aconteceu?

Ela respondeu:

            – Deixe os agradecimentos para depois. O que esse livro quer dizer?

O ambiente estava eletrificado, e aquele livro misterioso parecia ser a chave para desvendar parte dos segredos ocultos que eles estavam começando a desenterrar. 

Alexei responde:

             – Nele estão os detalhes que eu consegui apurar da criação e seus criadores. Concentre a compreensão nesses manuscritos e o restante irá corroborar os fatos.

Nesse momento, o Delegado entra na sala, dizendo:

             – O tempo chegou ao fim, espero que tenha tido êxito em seu interrogatório, e que seja breve em defesa de seu ‘cliente’, pois o julgamento dele está sendo acelerado pelos advogados do Vaticano.

Camille, James e Alexei trocam olhares carregados de significado. O tempo estava se esgotando, e a corrida para desvendar os segredos ocultos nos manuscritos se tornava ainda mais urgente. O Delegado observava atentamente, aguardando qualquer movimento.

James, com uma expressão determinada, disse:

           – Vamos aproveitar ao máximo o tempo que temos. Alexei, temos muito a discutir sobre esses manuscritos. Camille, você está pronta para nos ajudar a defender o que pode ser a chave para desvendar uma verdade oculta há séculos?

Camille olhou para os dois homens com confiança e respondeu:

          – Estou completamente pronta. Acredito que juntos podemos enfrentar qualquer desafio que se apresente.

           O Delegado assentiu e fez um gesto para que eles saíssem da sala. O ambiente estava carregado de expectativa e mistério. Os três saíram da delegacia, com o livro de capa vermelha em mãos, pronto para explorar seus segredos e desvendar a verdade por trás do “Dark Age”.

            O próximo passo estava traçado, e a jornada para desvendar os enigmas históricos ganhava uma nova dimensão. As respostas aguardavam nos manuscritos, prontas para serem reveladas, e os protagonistas estavam prontos para mergulhar mais fundo na história obscura que se desenrolava diante deles. O destino estava em jogo, e o poder da informação os impulsionava em direção ao desconhecido.