James, desorientado e traumatizado chegava a Delegacia que tanto esteve presente nos últimos dias com sua amada tentando esclarecer um caso agora a mesma Delegacia parecia tão negra, sombria e pesada como nunca antes pudesse notar, o delegado que fora tão solicito anteriormente parecia julgar, mas sem crer de fato no que estava acontecendo, sua visão do corredor que antes era carregada de esperança, agora só via perda, vazio e sofrimento tudo parecia tão sem luz e sem perceber o tempo e o caminho percorrido já se via encarcerado e jogado  na mesma cela onde Alexei cometera o suicídio, o cheiro do sangue de Alexei ainda estava presente que se misturava ao cheiro das suas vestes banhados com o sangue de sua amada em quanto ele a tinha em seus braços. 

     Ele tentava desesperadamente processar o que havia acontecido, mas o choque do trauma recente tornava isso uma tarefa quase impossível. As horas passavam, mas James permanecia em um estado de torpor, como se a vida o tivesse derrotado mais uma vez. Ele não conseguia compreender a lógica por trás dos eventos que o cercavam. Essa situação era particularmente cruel para ele, já que sua vida tinha sido marcada por um trauma de infância que o havia levado a se isolar emocionalmente e, quando finalmente superou esse trauma, a vida parecia conspirar contra ele novamente, como se estivesse presa em um ciclo interminável de tragédias que estava além de seu controle.

       Horas depois que para James pareceram anos de sofrimento e solidão, o delegado que antes o ajudava, aparece no corredor e com ares de respeito conversa com James dizendo:

       – Olá, como você está?

James sequer conseguiu levantar a cabeça e olhá-lo nos olhos. Então o delegado continua:

       – Eu não sei o que aconteceu, como aconteceu. Mas o seu caso é muito delicado. Está sendo acusado de estupro e assassinato. Parece que ela foi vítima de um ritual de sacrifício pelos quais ainda não compreendemos. Você terá seus direitos protegidos, um deles é um advogado para o defender, Você tem algum?

O silêncio não foi interrompido e James permanecia inerte, sua mente sequer podia ouvi-lo.

    O delegado continuou a falar, mencionando que havia recebido documentos oficiais dos advogados do Vaticano, que detalhavam o histórico de James no monastério e suas atividades relacionadas a rituais. Segundo esses documentos, James já havia realizado rituais semelhantes no passado, o que resultou em sua expulsão do monastério. Tudo parecia se alinhar contra James, como uma correnteza forte que o arrastava implacavelmente. Ele estava sozinho e frágil, incapaz de lutar contra a correnteza do rio da discórdia que o engolia cada vez mais.

       – Vou perguntar mais uma vez, Você me parece uma pessoa boa, mas seu caso e os fatos reais estão jogando contra você. Você tem algum advogado para o ajudar nesse momento? 

       O delegado, em meio ao silêncio de James, expressou sua preocupação com a sua situação. Ainda que James parecesse uma pessoa boa, os fatos que o envolviam eram extremamente incriminatórios. Diante da falta de resposta quanto a um advogado, o delegado informou que o Estado providenciaria um para a sua defesa. Ele desejou a James que tudo se esclarecesse rapidamente e o instruiu sobre o interrogatório que estava por vir, onde teria a oportunidade de apresentar sua versão dos acontecimentos.

    Assim deixou James novamente só com seus pensamentos. As horas se passaram e James permanecia sentado em sua cela, praticamente na mesma posição, rejeitando qualquer conversa, comida ou socialização. 

        A noite caia na rua e de alguma maneira James previa a hora que estava a chegar. Então pegou a cadeira e se posicionou de frente para sombra mais escura da cela e olhando fixamente aguardava uma presença. A cela pareceu esfriar ainda mais, como se a energia fosse sugada de alguma forma. As luzes ficaram mais fracas e piscavam parecendo falhar, então a silhueta mais negra se revela emergindo das sombras revelando a quem James aguardava.

A sombra então sussurra da escuridão:

      – Eu fui, sou e serei a ferramenta da verdade, o portador da luz, o elucidador, a mula que traz o sofrimento, a lâmina da realidade e da dor. Fui seu pai, sou seu carrasco e serei o seu libertador. Estive com você em todos os momentos, estou na dor e estarei aqui mesmo depois de você partir.

      A sombra emergiu das profundezas da cela, envolta em escuridão, e começou a sussurrar suas palavras enigmáticas para James. Sua voz ecoou pelo ambiente, carregada de um peso sinistro e uma aura de mistério. James ouviu atentamente, sentindo uma profunda conexão com aquelas palavras perturbadoras.